Siza Vieira: Casa António Carlos Siza, 1976/78 - Santo Tirso
Figura 1 - Casa Carlos Siza a partir da rua |
A- Contexto de Intervenção
A pequena moradia, projectada
para seu irmão Carlos, inscreve-se num ‘’gaveto de pendente e configuração
irregular em Santo Tirso’’. Esta localidade, como muitas outras nos arredores
do Porto, que de pequena vila se desenvolveu até extensas manchas de
edificações entre elas , fábricas, blocos de apartamento e moradias. Este projecto vai ser marcado pela dificuldade de enquadrar a forma
(em‘’U’)’, com a dimensão da parcela e a envolvente já edificada, resultante de
um desenvolvimento desorganizado da cidade.
‘’Perante este caos urbano’’, de mancha
edificada,’’ o edifício, cercado de muros, recolhe-se numa introspectiva forma
em U, e implanta-se no extremo nascente do lote.’’ De salientar que a forma do edifício é
resultante também da adaptação de um programa interno a uma topografia complexa
e uma envolvente com uma ‘’ ocupação de um terreno já pré estabelecidas’’. Os
muros também são parte importante do projecto, pois, originados na própria
fachada do edifício, vêem o seu inicio na cota mais baixa do terreno, ‘’e vão
diminuindo ao longo da rua, á medida que a pendente aumenta’’. O arquitecto encontrou problemas também com a
orientação do próprio edifício devido a legislação portuguesa tendo de
readaptar a sua primeira ideia a um edifício com uma nova orientação (tinha de
ter uma fachada paralela á rua), contudo atribui sempre uma grande importância
ao pátio cónico exterior , devido ao caracter exterior mas privado que este
tinha.
A
casa está localizada numa rua secundária, cercada por
habitações unifamiliares e a dois quarteirões, grandes blocos de
apartamentos desafortunadamente e violentamente interpõe-se na vista.
O projecto é feito e desenvolvido, pelo menos em parte, em resposta a esse contexto, com uma vontade obstinada de proteger e criar uma atmosfera íntima e acolhedora.
O projecto é feito e desenvolvido, pelo menos em parte, em resposta a esse contexto, com uma vontade obstinada de proteger e criar uma atmosfera íntima e acolhedora.
‘’O
acesso à casa é feito por uma passagem junto a um telheiro. A monumental Bay-window no alçado principal ,
o mais iconográfico dos elementos compositivos , evoca a promessa de
Gemütlichkeit, agora confrontada com uma urbanidade delapidada.’’
Apesar
da casa se desenvolver numa pequena área , a forma fechada e apertada dos
diferentes compartimentos é compensada pela criação de eixos visuais que
atravessam a habitação ‘’quer longitudinalmente quer transversalmente’’
relacionando assim a casa com a sua envolvente.
B- Lógica Funcional e Espacial (a partir da
planta)
Figura 2 -Planta Completa |
Dado
que o projecto da Casa António Carlos Siza desenvolve-se somente num piso, a
escolha da planta torna-se logica na medida em que nesta planta é perceptível quase
a totalidade do programa.
O
programa que a moradia contempla é sala de estar e jantar, quatro dormitórios,
cozinha, dispensa, duas casas de banho, é desenvolvido somente num único piso,
mas consegue criar um acesso a variados ambientes, sendo todo o projecto fruto
do desenvolvimento de um pátio central. ‘’Tem a forma de um U encerrado (forma
que o arquitecto Siza Vieira vai utilizar em projectos sucessivos)’’. É de grande importância a maneira como é
feita a articulação do programa em que apesar de haver uma ‘’subdivisão
conjunta do programa em 3 partes (entre elas , Cozinha e sala de jantar –
Habitação principal – Habitação dos filhos) , estas partes do programa
manifestadas por três volumes mais elevados, separadas entre elas, vão encontrar a união de todos os volumes
através de um corpo que dá continuidade a todo este sistema.’’
‘’A
reestruturar a lógica convencional deste programa , um eixo diagonal atravessa
o lote e penetra a casa, numa distorção enfática na ordem
tipo-morfológica. Centrada na
janela da Sala de jantar ( Bow-Window),
outro sistema geométrico transversal projecta uma parede curva tangente ao
limite noroeste, e simultaneamente, define as parede da ala dos quartos numa
radial centrifuga.’’ Consegue-se notar perfeitamente a tensão dado que o modo
como o arquitecto desenvolve os eixos tenciona o espaço.
‘’A
sala de estar é assim fortemente caracterizada pela Bow-Window que se abre
sobre a rua. Do lado de fora da
casa, a moradia, parece simples e modesta, envolvida pela
vegetação do jardim. No seu interior é contactado com
um jogo contínuo de deslocamentos e
correspondências entre paredes, vazios, painéis cegos e
painéis de vidro. Ao largo da lateral sudoeste encontra-se a sala de
jantar, a cozinha e a área de serviço com uma segunda Bow-Window . A cozinha tem pouca iluminação e o
mobiliário (bancos e mesa) foram desenhados á medida pelo arquitecto, tendo
estes sido colocado ao lado de uma alta janela que lhes fornece luz. No outro
lado da moradia (Noroeste) desenvolvem-se os quartos e as casas de banho.’' Cada
ambiente consegue ter a sua autonomia , algo que o caracterize e lhe dê a sua
própria identidade. De realçar também que a variação de eixos que o arquitecto
utiliza cria uma ‘’relação harmoniosa’’
com o jardim e a envolvente.
O pátio
cónico é fulcral no projecto visto que a circulação interior desenvolve-se a
partir dele funcionando como ‘’elemento de dilatação de espaço’’, este vai
sendo comprimido, deixando uma passagem mínima para o
jardim. ‘’O contraste de cor entre a marca azul e amarela dos seus
limites. É um espaço muito bonito em que a forma e a cor,
sombras e pétalas (roxo e
rosa) caído no chão de uma árvore torta, não só valoriza o
espaço exterior, como também invadem os
interiores. Cada atmosfera absorve parte dessa
presença e distribui a sensação de vivacidade pela casa.’’
C- Lógica Funcional e Espacial (a partir do
corte)
Figura 3 -Corte BB |
Escolheu-se
este corte porque é possível perceber-se facilmente a relação entre a
envolvente e o edificado, como a casa se relaciona com os muros que a rodeam e como os eixos visuais, que este cria,
proporcionam relações entre a casa, o jardim e o pátio.
A abertura da ‘’bow-window da sala’ ’juntamente com a
lareira são parte central da sala. Neste corte consegue
perceber-se a a forma como esta divisão resulta da projecção da forma do pátio, servindo quase
como um remate desse eixo.
Consegue
perceber-se também a diferença de alturas das diferentes zonas da moradia, com
a lareira a ter uma maior altura e dentro da própria sala de estar haver uma
variação de cota. É também de notar a forma como o arquitecto cria os eixos
visuais da casa relacionando fortemente as partes programáticas entre elas e
também criar relações com a sua envolvente. Tal como o eixo pátio
cónico/lareira é também importante a
forma como os dois pilares na sala de jantar emolduram a janela da sala jantar
e a forma como esse eixo relaciona , a sala de jantar com o esse pátio , assim
como a maneira como no sentido oposto este relaciona o pátio com as habitações
e toda a zona envolvente.
Como
podemos verificar no corte o pátio e a sala de estar estão ambos alinhados ao
longo do eixo central principal, criando assim um eixo visual directo da rua
para o pátio, transmitindo imediatamente ao utilizador da casa que esse mesmo
pátio é o coração da casa, pois ao colocar este pátio no centro , unifica toda
a casa. A este respeito, o assunto da variação das
alturas é essencial. ‘’Essas variações não são obtidas com
tectos contínuos, mas é a estrutura que se articula por camadas
de diferentes cotas’’. A forma como o tecto é disposto unifica as partes
programáticas do projecto, as paredes exteriores desenvolvem-se em muros á
volta da casa , quase que ‘’penetram’’ na casa transformando-se em paredes
interiores.
D- Aspectos do projecto mais próximos dos
modelos canónicas do movimento moderno
‘’O
sistema estrutural é baseado no modelo corrente ,de pilares, vigas, e lajes em
betão armado. Um pano duplo de tijolo furado constitui as paredes exteriores. Independentemente da banalidade deste sistema,
o arquitecto utilizou em pleno o seu carácter pelicular ; assim, nas paredes
exteriores, em esquinas, juntas, e vãos, os panos duplos descolam-se de si
próprios, e expõem-se em ângulos agudos que acompanham a geometria oblíqua do
conjunto. . Este
dispositivo arquitectónico obtém, em última análise, uma ressonância gráfica;
como se a matéria do edifício fosse um composto plástico autónomo.
A Casa António
Carlos Siza distancia-se da expressividade matéria e corpórea de anteriores
trabalhos; revelada como um agregado ocre, objecto de uma abstracção
neoplástica. Esta última não é uma característica permanente ou irrevogável do
percurso do arquitecto , mas resultante de um compromisso decorrente das
difíceis condições da construção em Portugal em meados dos anos setenta.’’
Vendo a citação de Siza Vieira numa entrevista em
Bawelt em 1990, '’Creo que lo que más me importa es
definir la sensación de protección y de abertura. En esta casa esto ha sido
posible mediante el control de todos los elementos a la escala adecuada'' (''
Acho que o que mais importa para mim é para definir a sensação de proteção e
abertura. Nesta casa, isso foi possível por controlar todos os elementos na
escala apropriada'') Consegue notar-se as influências um pouco do
funcionalismo humanista de Alvar Alto dado a sua preocupação no funcionalismo
da habitação para o irmão, não só de uma perspectiva técnica mas também humana.
A
influência da orgânica de Frank Loyd Wright
é sentida mas as influências
desta obra são principalmente do Modelo
de arquitectura orgânica de Zevi, tanto
em trabalhar em planta livre flexível, atendendo também ao exterior ser um
reflexo do interior, assim como a forma
como ele coloca os eixos de abertura das janelas. A cor da casa e a forma como
esta é inserida no jardim e na sua envolvente natural. O arquitecto vai buscar
também influências Clássicas , Barrocas para a elaboração desta habitação
utilizando elementos utilizados na arquitectura clássica como a ilusão óptica
de falsa perspectiva.
E- Aspectos do projecto mais
distantes dos modelos canónicas do movimento moderno
A moradia afasta-se dos
modelos canónicos do movimento moderno , já que se afasta da maioria dos
princípios racionalistas de Corbusier , não obedecendo à janela horizontal , ao
uso de pilotis , o desenvolvimento da planta é livre mas enquanto a planta
livre na arquitectura orgânica obedece a uma certa liberdade/flexibilidade, a
de Le Corbusier é imposta pelo funcionalismo técnico.
Esse
afastamento do modernismo é bem explicito quando o arquitecto recria a falsa
perspectiva na sala de estar, buscando assim inspirações ao Classicismo em vez
do Racionalismo.
‘’Obtido em configurações mínimas, este
exercício de perspectiva e complexidade espacial, foi comparado ao ethos do
Barroco Romano; assim Peter Testa sugere a analogia entre a forma deslocada do
capitel do pilar da sala de jantar e os mecanismos de ilusão óptica de Borromini.‘’
Usa
antes muros para delimitar a área de intervenção , e para tencionar o espaço,
cria vários eixos de abertura e jogos de opaco/vazio.
Apesar
de ser fortemente marcada pelo modelo orgânico de Zevi, este não tem uma grande
preocupação pela natureza dos materiais
mas sim, a sua preocupação é de caracter económico dadas as grandes restrições
económicas deste projecto.
Bibliografia
·
Àlvaro Siza, 1954-1976, Blau Monographs, Gustavo
Gili, SA.
·
Àlvaro Siza 1954-1988
·
Frampton Kenneth, Àlvaro Siza Obra Completa,
francesco del Co , escritos de Alvaro Siza
Trabalho Elaborado por :
André Rodrigues
Daniel Costa
Flávio Costa
Francisco Sousa
Trabalho Elaborado por :
André Rodrigues
Daniel Costa
Flávio Costa
Francisco Sousa